Asdrubal, o Girassol
ago
15
Num futuro longínquo a garantia da sobrevivência da humanidade só pôde ser alcançada através de uma polémica manipulação genética. A escassez de terra fértil, a incapacidade de produção suficiente de alimentos para suster sequer um décimo da população, forçou esta evolução artificial.
Evolução conseguida via um tortuoso processo com sacrifício da ética por parte de cientistas, quebra do juramento de Hipócrates por parte da Medicina, violações dos direitos humanos das suas cobaias, sucessiva geração/aniquilação de monstruosas quimeras antropomórficas, onde todos os meios eram justificados pelos possíveis fins: a salvação ou condenação da espécie humana.
Felizmente a autoria da História permite flexibilidade na fidelidade do seu relato. O percurso até aqui foi glorificado como conveio, omitindo-se tudo o que teve de vergonhoso e censurável. O mais importante é que se atingira o sucesso. A humanidade tornou-se capaz de subsistir exclusivamente via um novo processo biológico de fotossíntese.
A longo prazo se descobrirão os efeitos colaterais de tão radical xenobiologia. Agora, no médio prazo, a humanidade desfruta de um mundo novamente equilibrado do ponto de vista ambiental, depois de milhares de milhões se tornarem em fábricas processadoras de dióxido de carbono, um mundo onde deixaram de existir conceitos de magreza e obesidade, o corpo processava agora de forma inconsciente exactamente o necessário sem qualquer carência ou desperdício, um mundo onde a produção intensiva de alimentos deixou de ser necessária, fazendo com que milhares de milhões de hectares fossem devolvidos à Natureza que, muito mais rápido do que o previsto, sarou as feridas abertas pelo Homem recuperando fauna e flora em toda a sua magnificência.
O único senão é o facto desta fotossíntese recém-adquirida ser algo lenta, obrigando a largos períodos de exposição solar. Facto que levou à reformulação da arquitectura para potenciar ao máximo a exposição solar, criando-se também uma nova indumentária universal muito aproximada à utilizada em zonas balneares, o que de certa forma veio trazer enorme beleza estética à Humanidade uma vez que o corpo humano, qualquer que ele fosse, era agora digno de ser admirado.
Todos desfrutavam desta nova era com alegria e deslumbramento. Todos excepto Asdrubal. Asdrubal teve o azar de ser o primeiro caso de deficiência genética, tornando-se no primeiro ostracizado desta época. Asdrubal não podia andar livremente pela rua sem ser alvo de chacota imediata. Tal como no passado distante era-o apenas por ser diferente dos demais. Isto porque Asdrubal apenas conseguia realizar a fotossíntese através da sua escandalosamente descoberta genitália.
Para sobreviver Asdrubal era assim obrigado a constantemente posicionar-se de acordo com a orientação solar por forma a garantir plena exposição da sua única parte funcional. Para seu infortúnio rapidamente passou a ser mundialmente conhecido como o estranho caso de Asdrubal, o Girassol.
Para sobreviver Asdrubal era assim obrigado a constantemente posicionar-se de acordo com a orientação solar por forma a garantir plena exposição da sua única parte funcional. Para seu infortúnio rapidamente passou a ser mundialmente conhecido como o estranho caso de Asdrubal, o Girassol.
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Escrito de Fresco porquê?
Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy
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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço