Dunngud Issagon vs Dunnogud Begrand

Dunngud Issagon é o primogénito do rei dos gigantes Dunnogud Begrand. Os gigantes são seres temíveis. Usam os recursos em seu redor como se a finalidade do mundo, e das suas maravilhas, não fosse mais do que a de lhes servir como meio para atingir os seus fins.

Caminham impetuosamente esmagando literalmente tudo o que tenha o infortúnio de estar no traçado de linha recta entre si e o seu destino. Em cada refeição arrancam uma árvore para palitar os dentes, mesmo que ao lado jaza uma já tombada. Tão pouco se preocupam em verificar se essa árvore contém ninhos com crias ou se oferece frutos vitais para criaturas mais infímas. Jogam rochedos de toneladas num simples jogo de ver quem chega mais longe ignorando todo e quaisquer danos colaterais causados por tamanhos impactos.

Mas Dunngud Issagon é diferente. Dunngud olha para onde põe os pés, colhe apenas as árvores doentes, tenta negociar com os seus camaradas gigantes o desempenhar de actividades menos gravosas para o meio envolvente. Dunngud defende que o facto de ter o poder para destruir tudo em seu redor o obriga a ter a responsabilidade acrescida para não o fazer.

Os aldeões humanos reconheciam Dunngud e ao vê-lo, ao invés de fugir e procurar refúgio como fazem ao avistar um gigante em rota de colisão, correm na sua direcção com oferendas pelo seu cuidado. Dunngud aceita-as por simpatia, troca histórias e ajuda-os mesmo a desempenhar as tarefas mais hercúleas, sobretudo quando é necessário reconstruir o que foi pisoteado por algum dos outros gigantes. Para Dunngud fazê-lo era também uma maneira divertida de passar o tempo ajudando a montar o que parecia, para a sua escala, uma aldeia miniatura de brincar.

O seu pai, Dunnogud Begrand, recebia queixas gigantescas de que o seu filho se perdia em actividades mundanas, pouco lisongeiras para um lorde, que ainda por cima encorajavam a permanência da praga de insectos humanos mesmo ali debaixo das barbas do rei. Os gigantes são um povo orgulhoso que consideram ter uma reputação e um status a manter. Irado com o apontar do dedo dos seus súbditos, Dunnogud, decide dar uma lição a Dunngud de uma vez por todas e dirige-se a todo o gás para a aldeia dos humanos que iria esmagar fazendo da sua insignificância um exemplo para todos.

Dunngud não acatou a decisão de seu pai e apressou-se a fazer frente a Dunnogud. Pai e filho pelearam então até à exaustão tendo a aldeia dos humanos como pano de fundo. Montanhas tornaram-se vales, florestas viraram planícies, os céus só não desabaram porque são feitos de ar! Quando a terra deixou de tremer, os estrondos deixaram de se ouvir e a poeira assentou ficou claro o resultado de tão épica batalha. Parte da aldeia estava arrasada mas Dunnogud não foi capaz de ultrapassar Dunngud e grande parte fora salva.

Irado com a derrota e desiludido com o ultraje a que o submeteu seu filho, Dunnogud recorre à magia só disponível ao rei dos gigantes e lança uma maldição sobre este.

- "Dunngud Issagon, pouparei a aldeia que bravamente defendeste contra teu próprio pai e Senhor. Concedo-lhe protecção no meu reino. De hoje em diante nenhum de nós Gigantes seguirá o seu caminho por sobre ela. No entanto, TU, pagarás o preço por afrontar o Rei dos Gigantes e renegares a tua Natureza. Se não assumes o teu estatuto de Gigante, ele ser-te-á diminuído sempre que o uses para ajudar, e não esmagar, esses insectos humanos que tanto prezas!"

E assim Dunnogud Begrand partiu deixando para trás um santuário protegido dos ímpetos destrutivos dos gigantes. Dunngud ficou. E deu início à reconstrução de todas as casas da aldeia que houveram sido destruídas. A cada casa reconstruída o poder, força e tamanho de Dunngud eram dimínuidos. Os aldeões testemunhavam o seu enfraquecimento mas continuavam com os seus pedidos de auxílio. Depois das casas pediram-lhe que escavasse um novo poço, por precaução que erguesse uma paliçada em redor da aldeia, que lavrasse as terras que usariam para agricultura e muitas outras coisas que poderiam ter sido feitas por eles, demorando algum tempo mais, é certo.

Progressivamente Dunngud ficou da estatura de um humano, tornou-se um anão, até que um dia simplesmente desapareceu. Usado, esgotado até ao fim, como um recurso pouco estimado pelos aldeões que defendera.

Não mais se viram gigantes por aqui. Fica a dúvida se a todos tenha sucedido o mesmo que a Dunngud Issagon ou se simplesmente os humanos cresceram e assumiram o papel que outrora era desempenhado pelos gigantes.


PS - esta história é remanescente de viagem recente para caminhadas em trilhos irlandeses

Escrito de Fresco porquê?

Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy

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