Falta um arame para a morte
Olho para cima e vejo-a ali, como o último grão de areia de uma ampulheta, que teimosamente desafia a gravidade antes de fechar mais um ciclo e obrigar à manobra de inversão que marca o seu enterro sob o peso de todos os outros.
Aquela faca está ali, pendurada, à espera de me marcar como um ponto de exclamação final. Tão depressa corta o vento, como se torna baloiçante, ou rodopiante tal qual uma mortal rosa dos ventos.
Deixaram-na ali para me atormentar. Para saber que tenho os minutos contados aqui nesta cadeira onde estou acorrentado e amordaçado. Completamente de mãos atadas.
Olho para o arame que a prende, ora reluz ora se torna invísivel. Sonho que seja de titânio, ou aço bem temperado, mas julgo que seja de simples níquel. Cada vez mais fino, frágil, cada vez mais perto de um romper fácil.
Fiz o mínimo exigido. Enchi o peito de ar e enrijei os músculos ao seu máximo volume. As correntes afrouxaram um pouco ao expulsar todo o ar mas o problema são as mãos. Estes nós são fora do normal. Contorço os pulsos, dou esticões precisos, mas nada. Parece que cada vez me apertam mais. A minha carrasca desta vez esmerou-se.
-Já chega!? Posso parar com isto?
Grita-me ela de repente, surgida do nada, num misto de provocação e preocupação.
Abano com cabeça dizendo que não. Um homem deve manter a sua dignidade apesar de tudo. Se a faca me matar ela também fica sem o que mais quer no mundo. Há aqui um duplo jogo de bluff. Ambos fingimos não nos preocupar com o que vai acontecer quando aquele arame se romper mas tememos esse momento inevitável.
Há algo no meu olhar que a leva a retirar-me a mordaça.
-Diz! Fala as palavras que te salvarão!
-Não, não tenho medo!
Viro a cara na direcção oposta enquanto continuo a debater-me com os malditos nós. É então que se ouve um SNAP seguido de um ssssssssilvo mortal. A sua trajectória é precisa e o alvo é a minha cabeça. Gritamos os dois e deliro ouvindo muitos outros gritos na escuridão. Olho para cima e fixo-a. Reajo por instinto, abro a boca, e acaba-se tudo num fechar de olhos. Por segundos o tempo pára, então a faca é desembainhada de minha boca, as luzes acendem-se, salto da cadeira liberto, ileso, e a sala enche-se de aplausos da plateia.
quinta-feira, janeiro 06, 2011
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Escrito de Fresco porquê?
Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy
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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço