Perdi as rédeas do tempo!
ago
29
Aqui está! Finalmente encontrei-o. Anda fugido mas apanhei-lhe o rasto e já lhe tenho um bocado. Um bocado do tempo escorrido.
Neste entretanto assisti ao de leve a muito tempo de antena dado a quem deixou de ter tempo de vida. Parece que por mais Feios que sejamos quando vivos, todos daremos um bonito cadáver na morte. Nessa altura ouvem e interessam-se por tudo o que dissemos em vida, dizem-nos tudo o de bom sobre nós que nunca connosco partilharam. Normalmente os vivos são tratados assim. Se se gosta não se diz, se não se gosta diz-se nas costas. E quem tenha a coragem de dizer o que pensa, no momento em que o pensa, é logo etiquetado de maluco ou doido varrido. As homenagens póstumas são sempre mais cómodas porque estão isentas de contraditório, quer por parte dos homenageados quer por parte de quem não concorde. É uma homenagem cobarde mas com sucesso e entretenimento garantido.
Mas voltando ao meu tempo parece-me que o perdi por já não ter ponteiros para o domar com o palpitar dos seus tick-tacks. Vejo-o em todo o lado, em formato electrónico, como se de um mero joguete se tratasse. Até o meu telemóvel que dorme, ao acordar, mostra-me a hora em que se deitou durante um ou dois segundos até se conseguir situar no agora. Como se estivesse a fazer um zapping do momento em que vive. Um ou dois segundos não seriam nada se eu não fosse da geração do bit e do byte que vive ao microssegundo. Um segundo tem mil microssegundos e juro que os senti perderem-se um a um. Esses microssegundos são-me preciosos pois neles faço o escape do real para o imaginário, ocupando-me com fantasias, dissertações e ilustrações mentais enquanto a monótona realidade se desenrola ao ritmo do segundo ou por vezes do minuto.
Mas já nada há a fazer se até numa ampulheta vi uma mulher de bikini em silhueta. Quando o tempo está assim tão dissimulado tão depressa nos empurra descontroladamente em frente, nos passa totalmente ao lado ou simplesmente nos bloqueia o caminho. As rédeas que o controlam certamente vão de rojo atrás dele deixando veios etéreos por onde se espojam.
Hei-de voltar a agarrá-las mas até lá sinto falta do meu assincronismo que faz de mim quem sou.
domingo, agosto 29, 2010 | Etiquetas: Devaneio | 1 Comments
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Escrito de Fresco porquê?
Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy
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