Desvulcanização
Abrupto, de sangue demasiado quente, fluindo em imparável circulação até à súbita erupção, qual magma verbalizado, expelido por todos os poros, acumulando-se em camadas sobrecutâneas de alma carbonizada, esterilizantes de suas capacidades oral e sensorial.
Transformado em vulcão inerte, inflama todo e qualquer toque, abafando com trovões pulsantes todos os dizeres que lhe eram dirigidos. Deixara de respirar passando a imolar. Nem a fotossíntese de toda uma floresta tropical seria suficiente para anular a toxicidade da sua fumigação. Apesar de vivo deixara de ser sujeito transformando-se num coiso, um coiso ao descaso.
Assim existia na mais completa analgia física, emocional e espiritual, sem sentir sequer o contínuo e paciente gotejar que nele se infiltrava. Gota a gota, sendo as primeiras milhões evaporadas instantaneamente, se formaram veios trespassantes, abrindo canais de lágrimas vitais, dissolventes das toneladas de suas matérias e imatérias mortas que o mantinham prisioneiro inerte e fossilizado.
Sem agitação esta delicada e zeladora liquidez engoliu-o numa lenta curtição, diluindo-lhe toda a amarguez e insalubridade, num processo que requereu uma incerta quota parte da eternidade, culminando num violente agitar de águas. Primeiro um regurgitar! Golfadas dos resquícios de carvão e lodo que bloqueavam o seu ser. Depois um despertar com um esbracejar e um violento gritar
AAAAAAAARRRRRRRRRRGGGGHHHHHHHH!
Ecoou a uma velocidade 4x superior ao normal gerando em seu redor um turbilhão de bolhas de oxigénio que se elevaram para a superfície. Ainda inebriado pela recém-adquirida senciência segue-as como que por instinto. E é durante essa ascensão emergente que se questiona como terá transitado de homem condenado em vulcão a homem recuperado em Aquário.
segunda-feira, março 30, 2015
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História Curta
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Escrito de Fresco porquê?

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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço