S'enche a pança
Começou enquanto buscava numerário no meio do dicionário
Ao encontrá-lo, espanto!
O elemento rário emigrara para um qualquer imaginário!
Nume ficou
Requalificado em
Me
Nu
Resultado da fusão entre um inglesismo e um corte no despesismo.
Nem fico mal vestido apenas de fome num formato disforme.
Nem se nota o remendo do digestivo que me mantém o estômago furtivo!
E tu,
matreiro,
que tudo decides,
aí do cimo do meu telhado de zinco,
olhas-me tranquilo,
gerindo o ponteiro até ao chá das cinco.
Oh como é importante gerir...
GERIR!
JE
RIR
HA HA HA
Rir é o melhor remédio quando não há remédio.
Rir é uma trapaça, um género de carapaça que nos encouraça.
Não se iludam pelo riso e seu belo sorriso
Estejam certos que por detrás espreita um siso conciso.
Tu ris-te...
Diz-me, que esconde o teu?
Abre as tuas comportas de marfim,
liberta a tua língua,
vocifera em mim tudo aquilo que te deixa à míngua
Tudo o que tu queres esquecer,
tu procuras esquecer,
tu não podes esquecer.
Os teus olhos não deixam.
Os teus ouvidos confessam.
Esquecer...
És
que
ser
Que ser és tu quando não te deixam sê-lo?
Quando te plantam as ideias,
quando te roubam as ideias,
quando já não queres ter ideias.
Deixas a mina secar na esperança vã de que os mineiros se vão.
Num ápice
passas de mina de diamantes a mina de carvão.
Aquietas-te a um canto, a pouco mais fazer, do que contar o tempo a passar...
É o tempo dinheiro?
NÃO!
Não se guarda em mealheiro!
O tempo perdido não pode ser encontrado.
O tempo perdido não beneficia outrém.
É simplesmente uma meta que fica mais aquém.
Ei! Vejam! Além!
Já viram o que chove?
Ou o que vai chover?
Já ouviram o que venta?
Ou o que vai ventar?
Sintam-nos!
São ventos de mudança de uma tempestade de mar!
O que vem depois?
Será bonança?
Será MATANÇA?
Que me importa a mim, se é este vento que sopra, o vento que me enche a pança?
PS - este poema resulta da adaptação de um escrito para fazer um género de estreia de Poetry Slam num evento de jantar de Natal de empresa. Aborda a temática da crise e seus efeitos colaterais. Assunto tão em voga nos últimos anos. Pareceu-me bem colocá-lo online junto da celebração dos 40 anos do 25 de Abril.
quinta-feira, abril 24, 2014 | Etiquetas: Poesia? | 0 Comments
Serial Killer
Eu, assassino em série, me confesso
Aqui estou, como sou
Como assim, como sou?
Talvez seja melhor começar como tudo começou
Como comecei
Um começo espesso
completamente virado do avesso
E então
me matei,
pela primeira vez
Matei-me ingénuo, inocente
Tornei-me culpado, inclemente
completamente diferente
Sonhei o pesadelo dos outros
Assinei papéis e contratos
Vivi a vida de todos
Olhos cegos, ouvidos moucos
Até que a meio acordei
e mais uma vez
me matei
Sim
assassinei-me várias vezes
mais que uma
mais que duas
mais que ...
três?
Não sei.. de contas sou meio tan-tan
Direi que me mato o necessário para me manter a mente sã
Tenho brio em fazer o que é preciso mantendo o sangue frio
Noviço fi-lo inadvertidamente
Hoje faço-o selectivamente
Sou o homicida de serviço
Em mim há muitos,
em mim há uma legião
Não estou possuído por ela
Sou seu comandante, seu capitão
Ela é a minha armada,
bela
É entre ela que eu escolho e
Mato, morro
Mato, morro
Mato, morro
trabalhando a fusão do meu interior
em socorro do meu exterior
Não tenho heterónimos pois todos eles são eu
Cada um, um meu sinónimo, anónimo
São-no à sua vez,
ontem como agora
Até chegar de morte a sua hora
Porque por vezes há que
perecer
para ser
Por favor não me vejam como um demo
Pois também eu um dia temo,
ainda que de forma tímida e íntima,
vir a tornar-me a próxima vítima.
Talvez por isso
Eu,
serial killer,
vos digo
com esta grosa de rimas e palavras à toa
com esta prosa sem tesão de livro de Henry Miller
Que quero ser menos poesia e mais Pessoa
Nem que para isso tenha de
até à eternidade
despir-me de
toda e qualquer identidade
expondo-me integralmente nu
NU
Faria!?
PS - a ideia para este poema surgiu no dia Mundial da Poesia em que assisti a um evento na Malaposta onde foi declamada/interpretada parte da obra de Fernando Pessoa. Pus-me a pensar se realmente necessitaríamos de nos fazer passar por outros para passar emoções e formas de estar antagónicas. Se Pessoa tivesse sido só Pessoa e não todos os que foi a sua obra teria menos impacto? Deverá um artista criar versões de si para cada uma delas manter uma consistência homogénea em vez de se apresentar como um ser único ainda que com laivos de esquizofrenia?
E que coerência temos ao longo da vida já que se a vivermos plenamente estaremos em constante mutação?
E assim nasceu este texto, com um cunho pessoal final onde faço um trocadilho com o meu nome Nuno Faria, assumindo-me como alguém que mantendo a cara e o nome vai altercando o seu conteúdo.
Ontem teve o seu baptismo de Slam, hoje é entregue ao mundo.
sexta-feira, abril 18, 2014 | Etiquetas: Poesia? | 2 Comments
Escrito de Fresco porquê?
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