Sentir o ronco
<grrrrrr ... grrrrrr ... grrrrrrrr>
O sopro do teu ronco resmunga
<grrrrrr ... grrrrrr ... sniff!>
O sopro do teu ronco funga
Há noites em que me embala
hora após hora
Há dias em que me fere como se fora uma bala
dá-me ganas de fazer as putas das malas e ir embora!
Esse vendaval que respinga
vindo das tuas entranhas
esse local ébrio sem pinga
tão diferente do teu ser sério, etéreo
Com que cada vez mais me estranhas
Com que cada vez menos me amas
É este teu ar quente, eloquente, meu único alento
Ao menos retira-nos o frio do calafrio,
deixando-nos a sós com o silêncio deste calamento...
Com esta merda de acasalamento!
<grrr rronc rronc!?>
Shhhhhhh
Mantém-te nesse teu sonhar roncador
Fica para mim o desemaranhar deste tear do amor
A nossa lã não é pura nem virgem
Provém de meadas górdias
embebidas em lágrimas
esgrouviadas
enleadas em escórias
Escorri-as!
E delas se soltaram
enredos, bruxedos e outros medos
Graúdos cornudos
relatando pecados carnudos
E eu
feita camafeu
endureço o rosto
mostrando-me pronta para a sua afronta
Capaz de provar o veneno do seu mosto
Contudo
perco-me na toponímia da sua ignomínia
Cansada
sem calo para mais, desisto e jogo tudo pelo ralo
Esvai-se pelo esgoto em espiral de cristal
ensonsa, sem um pingo de sal
Para me tranquilizar afago-te o falo
Penso mesmo em dar-te uma mamada
Sentir-te no goto
<huuummmmm>
Estamos em sintonia, tu gemes, eu quero gemada
É então que me apercebo que paraste de ressonar
Sinal que estás prestes a despertar
Sim, já o sinto, aí te vens tu, com o teu habitual dizer
"PÁRA! O QUE ME ESTÁS A FAZER!?"
assim mesmo
com o teu
membro em riste
é perpétuo
é triste
o finar de um ronco
pelo raiar de um bronco
PS - este poema escrevi-o num Domingo altamente ressacado em que precisava de mais um para o caso de passar de fase de seleção num evento de Poetry Slam. Estava um dia cinzento, chuvoso, muito pouco inspirador. Ao meu lado uma das minha cadelas dormia profundamente e dela soava um ronco. Sonoro, presente, envolvente, preenchendo o vazio da minha mente ressacada. Fez-me pensar em como diferentes roncos, ou quem sabe o mesmo em diferentes pessoas ou seres, podem provocar reacções desde o adorável ao insuportável. E assim este bronco escreveu sobre um ronco e o seu tudo ou nada.
Porque escrevi esta 'origem' aqui? Porque muitas vezes ao ler um poema me pergunto sobre a sua origem e intenção do autor desejoso de o cruzar com a minha interpretação. Se és desses que questionam o mesmo aqui fica satisfeita a tua curiosidade.
domingo, março 16, 2014 | Etiquetas: Devaneio, Poesia? | 0 Comments
Escrito de Fresco porquê?
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