Prometes?
Dois miúdos aguardam a sua vez na fila, Zé seguido de Tomás, para terem acesso às cabines de duche. A coisa não flui como eles esperariam e a sua impaciência é notória.
- "Fogo... ainda faltam !3! pessoas à nossa frente..."
- "Epá Zé, não quero estar aqui à seca!"
- "Mas temos de estar Tomás! Temos de estar senão nunca mais! Depois os nossos pais..."
- "Então fica aqui tu que eu vou brincar lá para fora. Quando for a minha vez chama-me, ok?"
- "Fica aqui! Não vês que está muito barulho!? Não me vais ouvir!"
- "Chamas-me melhor... duh"
- "Fica mas é aqui quieto ao meu lado que é melhor."
- "Não quero, não tenho paciência. Vou lá para fora para ver se te ouço chamar-me."
- "Não vais nada!"
- "Já fui! CHAMa-meeeeeeee..."
Zé irritado por ser abandonado naquela seca de fila sussurra baixinho o nome de Tomás que do lado de fora, na zona de brincadeira, nada ouve. Progressivamente Zé aumenta o volume até ao tom normal e Tomás ouve-o. Imediatamente corre para o interior do balneário.
- "Vês, Zé! Vês! Ouvi! Ouvi!"
- "Ouviste-me aí à 3ª ou 4ª! Já tinhas perdido a vez. Fica aqui, Tomás!"
- "Então vamos experimentar outra vez!"
A cena repete-se exatamente da mesma maneira com um Tomás frustrado por a coisa não funcionar como previsto e ter de ficar preso aquela fila pasmaceira para não perder a vez. Zé está inchado pelo seu esquema maquiavélico estar a funcionar em pleno. Só que Tomás não tem tempo a perder e prefere solucionar aquele problema do que estar parado na fila. Pede mais uma oportunidade. Desta vez não vai para a zona afastada de brincadeira, de onde não ouve os sussurros de Zé, encostando-se à parede imediatamente após a esquina da porta de saída do balneário. Zé novamente sussurra
- "Tomás..."
Tomás entra de rompante, vitorioso!
- "Ouvi! Ouvi!"
Zé, frustrado por ter sido apanhado no seu esquema.
- "Vá lá, Tomás... não te metas com parvoíces. Fica aqui comigo senão ainda perdemos a vez."
- "hum... JÁ SEI!"
- "O quê?"
- "E se fôssemos até ao outro balneário?"
- "Só faltam três pessoas aqui!"
- "Ya, mas lá pode estar melhor!"
- "Estás a falar a sério?"
- "Sim! Bora, bora, bora!"
- "Tu queres é que eu saia da fila para me passares à frente..."
- "Não! Juro que é para irmos! Boooooraaaaaaa!"
- "Juras? Isso não vale de nada!"
- "É a sério pá! Olha aqui."
Tomás estica o mindinho para Zé. Zé com um ar mais aliviado entrelaça o seu mindinho no mindinho de Tomás que olhando-o nos olhos lhe diz.
- "Prometo que não te vou roubar o lugar e que vamos juntos para o outro balneário."
Zé, tem agora a certeza da verdade nas palavras de Tomás. E zarpam numa correria e barulheira desenfreadas para outro balneário. Cinco segundos depois de saírem vagam três cabines de duche no balneário onde se encontravam. Ao chegarem ao outro balneário estavam seis pessoas em espera e Tomás, por ter ganho a corrida, ficou desta vez à frente de Zé.
Nem Tomás fez as contas para perceber que tinha mais pessoas à sua frente, nem Zé se importou de ter perdido o seu lugar na fila para Tomás. Ambos saboreiam simplesmente o facto de as promessas de mindinho continuarem a ser o que de mais fiável existe e de assim terem mais um pouco de tempo, justificado, para fazerem mais umas parvoíces juntos antes de chegarem atrasados ao ralhete da hora de jantar, junto das suas famílias.
domingo, agosto 19, 2012 | Etiquetas: História Curta | 0 Comments
Escrito de Fresco porquê?
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