Quem é Susan Molly?

- Susan... Susan... SUSAN MOLLY! Onde andas metida rapariga? Estás novamente metida no armário debaixo das escadas a dar asas à batuta e a serpentear feitiços em latim? Ainda não percebeste que a magia dos livros não passa para a vida de carne e osso?

- Evanesco! Evanesco! Evanesco!

- Sim, sim. Mete-te mas é ao fresco. Vamos jantar. O teu pai está à tua espera e quer saber quem é aquele rapaz com quem estavas aos amassos em frente aos Paços do Conselho.  Primeiro comes a sopa em paz e depois prepara-te. Já sabes do que ele é capaz.

A sopa estava deliciosa, cremosa quase ao ponto de se poder comer à garfada. Era uma sopa cruzada de batata e cenoura com um pouco de beringela, o suficiente para polvilhar a superfície com uma constelação de minúsculos pontos negros. No final juntavam-se as beldroegas. O meu pai adorava-a e era o único momento de paz ao jantar. Em que não nos metralhava com perguntas, opiniões e mandos do que fazer com a nossa vida. Durante uns momentos só se ouvia o slurp do sorver de cada colher. Lembro-me de acabar a sopa e dizer:

- Temos de falar.

- Oooh Molly... Falar? Agora? Estão a dar as notícias! É o único momento do dia em que posso ver o que se passou no mundo enquanto estou enfiado em trabalho.

- Hoje sou eu as notícias. Não estou bem. Sinto a falta de experiências. Não me devia ter agarrado a ti tão cedo. Eu gosto de ti, a sério. Mas passei contigo a juventude e agora nestes trinta e poucos sinto-me esvaziada de momentos. Sinto que para crescer individualmente preciso de partir e viver, sei lá.

- Partir, Susan!? Mas julgas que basta um Beam me up Scotty para desapareceres daqui a velocidade Warp? Vais esquecer tudo, desde o nosso primeiro beijo nos Paços do Conselho, assim num abrir e piscar de olhos?

Fechei os olhos para o encarar melhor e naquele momento tive saudades da algazarra do meu pai e das sopas da minha mãe. Ele continuou com o seu bla bla bla. Coisas importantes, sérias e pretensamente acertadas. Mas a busca da felicidade não passa por fazer as escolhas acertadas. Pelo menos para os outros. Abri os olhos pronta para tudo.

- Mas que mais queres tu saber?

- Como conseguiste largar tudo e partir para a missão humanitária em África! E como lá conheceste o pai!

- Sabes que Molly quer dizer maricas ou homem enfeminado?

- Não...

- Pois ficaste a saber agora. A sorte é que sou uma mulher! Susan Molly! 

- Mas mãe! Eu sou Molly! Sou maricas!?

- Cala-te e sorve a sopa.

Escrito de Fresco porquê?

Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy

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