Um Natal Valentim

É época natalícia, logo a seguir vem o reveillon, segundo as estatísticas são as alturas do ano onde ocorrem mais desavindos, separações, divórcios e mesmo suícidios. Para mim não há perigo, vou passar essas datas sozinho porque passou o período de 9 meses sem que nada desse à luz.

Lembro-me desse dia, de te querer supreender convidando-te para um jantar imprevisto, tanto para ti como para mim, o que resultou na falta de uma reserva de mesa. Andámos de restaurante em restaurante, as filas repletas de bouquets, caixas de bombons e casais emitindo crru-crrus ternurentos enquanto roçavam os corpos. Nós, não dispostos a esperar, seguíamos pela estrada rolando e rindo. Acabámos num Drive-in a pedir uma junk-food qualquer. Meu Deus que pecado aquelas sobremesas cremosas com toppings do Diabo.

Seguimos para um spot no meio do nada com vista para o mar. Agarraste-me a mão que estava sobre o manípulo das mudanças com medo de que eu não respeitasse o fim de caminho e nos jogasse pela ravina. Não percebi se foi um sentimento de insegurança ou a tua forma discreta de criar a primeira faísca. Aquele pequeno toque foi a ignição de um desejo escondido que me esforcei por voltar a aprisionar nos confins do meu subconsciente.

Ficámos ali parados olhando as estrelas e o manto de luz lunar sobre o espelhado do mar. A música hipnótica e as nossas falas dengosas empurraram-nos para o banco de trás e embaciaram todos os vidros. Já não estávamos no mundo mas sim num casulo só nosso, entrelaçados, sofrendo uma metamorfose para estados de alma indescritíveis.

Seria por causa da magia agendada anualmente para aquele dia ou pura coincidência? Na verdade éramos apenas bons amigos e de repente isso era pouco para descrever a nossa relação. Não sei se fomos alvos de um pequeno anjo que semeou em nós a semente da paixão mas o que é facto é que não se explica facilmente o fogo que ali ardeu.

O dia seguinte era meados e não muito tempo depois chegámos ao fim. E é por isso que agora é Natal, daqui a pouco é Ano Novo, e eu sonho aqui sozinho, esperando ansiosamente pelo dia catorze em que voltarei a convidar-te para um jantar surpresa. Desta vez precavi-me e já reservei mesa. Só te peço que esperes por mim porque prometo que seda para nos envolver em novo casulo não nos faltará.




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Escrito de Fresco porquê?

Há quem me tome por incontinente verbal mas a verdade é que a minha língua não tem débito suficiente para o turbilhão de pensamentos que me assolam a mente a todo o momento. Alguns engraçados, outros desgraçados, mas vários merecedores desta lapidação digital para a posteridade e, quem sabe, para a eternidade. Os escritos aqui presentes surgiram do nada e significam aquilo que quiseres. Não os escrevi para mim mas sim para ti. Enjoy

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