Um Coelho, uma Lebre e o Falcão esvoaçante
- "Ei, Lebre! Aguenta os cavalos! Onde vais com essa intensidade zig-zagueante?"
- "Olha-me este... que tens tu com isso ó Coelho?"
- "Ter, ter não tenho nada. Mas essa tua dessintonia borra-me a paisagem. Estás em todo o lado ao mesmo tempo mas não vais para lugar nenhum!"
- "E qual o problema? O dia ainda não acabou, tenho muito para onde ir parar. Tu por outro lado, Coelho, que fazes aí especado tal e qual um animal ruminante? Só te falta a linha do comboio ou um palácio..."
- "Antes de mais sou mesmo ruminante sua Lebre ignorante. Simplesmente aprecio a vista e o tempo nestas paragens. Não preciso de partir nem de ter onde chegar. Tenho tudo aqui. Comida, abrigo e até mesmo atenção e carinho."
- "Assim de bandeja? Sortudo, felpudo orelhudo... Já eu corro diariamente por comida, tenho mais tocas do que as que guardo na memória, a nenhuma posso chamar lar, e atenção atraio sobretudo a dos caçadores. Mas isto não é uma quinta? Não estarás na boa vida para a engorda e depois panela contigo?"
- "Não, não. Sou coelho mascote. Para a panela há ali aqueles em cativeiro nas traseiras. Tenho melhor sorte felizmente."
- "Eles prisioneiros com destino marcado e tu aqui, à solta, livre, vida de Lorde. Que acham eles disso?"
- "Na verdade estes não sei. Já ando aqui há uns anos mas aqueles só costumam estar ali uns meses. Ainda meti conversa com os primeiros mas só pedem ajuda ou têm raiva ou inveja. Sou só um Coelho. Têm que compreender que tenho as minhas limitações. Assim deixei de os ver e faço por os esquecer."
- "Estou a ver... mascote há só uma. Bem orelhudo, foi um prazer, mas não sei sequer por e para onde vou. Tenho de me fazer ao mato na esperança que uma das minhas tocas esquecidas me encontre."
-"Ok, Lebre. Segue lá um pouco mais certa para o teu destino incerto. Não me monopolizes a vista deixando um rasto de figuras tuas."
E lá foi a Lebre em sprint pensando se num qualquer futuro terá a capacidade de apreciar o conforto de um ponto de partida e de um ponto de chegada conhecidos.
E lá ficou o Coelho parado magicando como seria verdadeiramente libertador seguir um dia por um caminho não planeado para chegar onde calhar.
Sobre ambos um Falcão paira observando-os como ilustrações vivas de um cardápio. O em sprint ou o parado são a mesma coisa, não fosse ele dotado de visão de alta precisão e capaz de um voo picado silencioso a mais de 300 kmh. Apenas estava indeciso sobre qual iria sentir o aperto das suas garras.
Já os coelhos das traseiras ficam como estão. Alheios e esquecidos nem sei porque foram para aqui chamados.
sexta-feira, julho 09, 2010
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1 comentários:
Suberbo e parti a moca toda :D
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Olá... estou-te a ver! Podes falar mal ou falar bem mas com juizinho sff! Beijinho e/ou Abraço