Estar sentado sobre uma falésia é sinónimo de uma amnésia momentânea. Há algo nesta fronteira elevada entre o terrestre e o marítimo que nos limpa o espírito e nos faz voltar a ver com o olhar e a ouvir os ruídos.
Mas é preciso estar na linha exacta que permite esse esquecimento. Dois passos atrás e de volta à segurança da terra firmada e da vida tomada, dois passos em frente e depois de uns segundos de medo Olá Sr. Rochedo!
Sempre tive este fascínio de andar em beiradas de precipícios. "Sai já daí Nuno Miguel!" e com um bocadinho de sorte esquivava-me à palmada. Mas à socapa, sempre que tinha oportunidade, lá fazia de cabra montanhesa (existirá o termo cabrão montanhês?) just for the thrill of it.
Voar seria mais fácil como faz esta gaivota que me arrasta o olhar para este paradoxo: uma casa sobre a falésia!
Viver sobre a falésia não será um constante esquecer? E tudo esquecer é viver? Dou a mão à palmatória que aquela caverna pode ser um bom escape para uma qualquer alegoria, mas é quase certo que ali viver nos levaria a ser esquecidos. Ou pior, ali viver poderia levar-nos a esquecer que ali existe uma falésia.
domingo, junho 13, 2010 | Etiquetas: Devaneio | 0 Comments
2010/05/06 - Há palavras que ...
Há palavras que soam a chilreios de pássaros voando sobre a sarjeta e sobre os mendigos que cravam cigarros. Outras palavras estão impressas em cartazes pendurados nas copas de árvores ou simplesmente colados em carrinhos de gelados.
Há palavras avassaladoras que competem com o pouca-terra pouca-terra dos comboios e que, tal como acontece com os automóveis, precisam de uma passadeira para evitar sermos atropelados por elas.
Depois, felizmente, há aquelas palavras que trazem as pessoas às varandas. Não as varandas com vista para o alcatrão mas sim aquelas que avistam um jardim sem fim. Essas palavras são faróis que dispersam a fuligem e o lixo vigente. Surgem do nada e muitas vezes engasgadas como repuxos de uma fonte secular.
Os seus autores são pessoas, com e sem stress, que sobre o restaurante se assumem como mecânicos da escrita criativa.
quarta-feira, junho 02, 2010 | Etiquetas: Crónica (ou género disso) | 1 Comments
2010/05/06 - Escrevi a palavra Mistério
Escrevi a palavra mistério porque era o contrário do que tinhas gravado à superfície.
Um livro tem muitas páginas mas um livro aberto apenas mostra duas delas, como sendo as suas duas faces. No entanto muitas mais faces estão escondidas nas suas folhas e entrefolhas.
Por natureza valorizamos na escala os "livros abertos". Estranho, considerando que após lermos um livro o fechamos e repousamos numa qualquer prateleira que serve de seu trono ad eternum.
Já os livros fechados, que pouco abrimos, porque são densos, porque não nos facilitam a vida e criam problemas, permanecem longas temporadas ali, ao nosso lado, à mão de semear.
Livros abertos ou fechados, poucos têm a sorte de andar aos ressaltos de mão em mão fora do pó das prateleiras.
terça-feira, junho 01, 2010 | Etiquetas: Devaneio | 1 Comments
Escrito de Fresco porquê?
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